quinta-feira, 1 de agosto de 2024

É Saber Olhar Pra Trás


Eu não sei o que falar quando as coisas não vão bem
Deixa o tempo passar que elas vão passar também
Todo esforço é necessário para se chegar no horário
Eu não quero perder a hora nem burlar o calendário

Quando a gente escuta é que a gente cresce
Se a gente só fala, a gente só se aborrece
Quando a gente perde é que a gente amadurece
Se a gente só ganha, fica chato e envelhece

E assim se vai seguindo
Sempre em frente e sempre mais
Se quiser sair na frente é saber olhar pra trás

Eu não sei o que dizer quando as coisas parecem mal
Deixa o tempo correr que elas voltam pro normal
Todo esforço é necessário para se estar no itinerário
Eu não quero perder o rumo nem rumar feito otário

Quando a gente espera é que a gente cresce
Se a gente só vai, a gente só se envaidece
Quando a gente cede é que a gente amadurece
Se a gente só quer, fica chato e apodrece

E assim se vai seguindo
Sempre em frente e sempre mais
Se quiser sair na frente é saber olhar pra trás

terça-feira, 23 de julho de 2024

Aquarela Num Resto de Giz


Nunca é tarde pra se amar
Pra escolher com quem dançar
Deu vontade de beijar
Então beija e deixa estar

Nunca é tarde pra se achar
Pra escolher com quem contar
E se for pra discordar
Então vale um conversar

Vai, abre a porta
Coisa morta é pra sair
Ai, vida torta, o que importa é não cair

Vai, fende a cela
Coisa bela que se quis
Ai, vida fela, aquarela num resto de giz

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Eu Agora Morro De Amores Perdidos


Eu agora morro de amores perdidos
Por cada mulher que eu conheci
E que me perdoem seus ditos maridos
Pois que primeiro fui eu quem as vi

Eu quem as vi nos tenros momentos
Em que se abriam, flores, à vida
Deixando escoar uns aromas ao vento
E afáveis sorrisos de bocas queridas

Ai, santo martírio o meu peito adotou
Das musas passadas, lindas meninas
Por quais suspirei e sonhei e vivi

Ai, pena que o tempo cruel se passou
E as moças meninas, ninas passadas
Viraram amores que hoje eu perdi

Os Raios Que O Cume Tem


Os raios que no cume vejo
Os raios que no cume ardem
São lúmens, tons de um realejo
Que luzem para qualquer parte

E a alva que do cume veio
E as alvas que do cume além
Eu quebro e me divido ao meio
Se não comparto com ninguém

Ai, luz do sol que queima
Não queima, vai, só me bronzeia
De modo que eu fique bem

Ai, luz do sol que queima
Não queima, vai, só me bambeia
Com os raios que o cume tem

terça-feira, 9 de julho de 2024

Querer Ter Alma É Ser Um Pateta


Diria o poeta, da alma minha
Que é tão alma, mais que minha
Que não é minha a alma, essa
Que é mais alma do que eu teria

Da alma minha, eu mais diria
Que não foi minha ainda um dia
E que a alma de si tem pressa
E só a si própria é que se aninha

Eu até diria ao meu nobre poeta
Que presunção que a mim já seria
Querer ter alma que fosse minha

Querer ter alma é ser um pateta
Triste ilusão a que eu já nem teria
Não fosse o gozo da alma minha

segunda-feira, 8 de julho de 2024

O Amor Em Mim Abunda


O amor em mim abunda
Em mim abunda o inflado amor
Sua ausência a mim afunda
E a mim afunda em imunda dor

Essa dor que é profunda
Tão canhestra e, assim, sem cor
O tal amor em mim abunda
Em mim abunda o inflado amor

E abunda, enfim, com tanta força
Com tanta angústia, aflição
Que não me cabe ao coração

E é tão profunda e é tanta a força
E tão fecunda a mim, então
Que já me abunda na canção

Eu Escrevo e Canto e Faço Música


Eu escrevo e canto e faço música
Que eu preciso de carinho, sim
E eu amo e amo as coisas lúdicas
Pois que há um menino em mim

Eu escrevo e canto e faço música
Que eu preciso de agrado, sim
E eu amo e amo as coisas lúcidas
Pois que há um palhaço em mim

E eu peço ao verso que me coma
Poesia, seja a minha dona
Seja tudo aquilo o que quiser

E só não me esqueça ao que vier
Poesia, haja o que houver
Seja a que não me abandona

O Poeta, Em Si, Traz Consigo


O poeta, em si, traz consigo
Alguma tristeza profunda
De ser um irmão, um amigo
Da morte que o circunda

E é tão profunda, antes digo
A morte que a ele inunda
Que vem a ser como abrigo
Da vida em que se afunda

Que não, ao poeta, uma cura
Que não, ao poeta, a alegria
Que o afugente da poesia

Antes, que o valha a entropia
Antes, que reste a amargura
Da morte, venha a doçura

Quanto de Vida é Morta Quando Deito


Quanto de vida é morta quando deito
Quanto de céu vai cinza sem saber
Sou como o rio afastado do seu leito
Sou como o ar rarefeito a carcomer

Quanto de morte é viva no meu peito
Quanto de dia é noite a se perder
Sou como o cio não atado, desafeito
Sou como o ar liquefeito a escorrer

Quanto de luz ainda mora no escuro
Quanto de escuro é só luz que faleceu
Quanto de agora que ainda é futuro

Ou foi passado que até nem se viveu
Quanto de mim que ainda soa impuro
Quanto de impuro que soa como eu

quinta-feira, 4 de julho de 2024

E o Amor, Acaso, Precisa Rimar?


Sonetos de amor precisam paixão
Façam canção para os sonetos de amor
Poemas e rimas são nacos de pão
De pão e mais rimas se vale a canção

Sonetos de amor precisam paixão
Floresce tesão entre os sonetos de amor
Poemas e rimas, talvez de algodão
Que outras rimas não fazem a função

E o amor, acaso, precisa rimar?
Consegue, o acaso, cantar o amor?
Que sorte a das rimas e a dos poetas

O fato é que o amor já vai precisar
De um pobre poeta pra ter seu favor
De apor mais beleza nas fadas diletas